Médicos confirmam surto de toxoplasmose em Santa Maria

O mistério que está deixando a população de Santa Maria e as autoridades em saúde de cabelos em pé nos últimos dias chegou ao fim. Conforme a médica infectologista do município, Paula Martinez, e o infectologista que atende na rede privada Thiego Cavalheiro, Santa Maria vive uma situação de surto de toxoplasmose.

A doença é a causa dos sintomas da síndrome febril, que vêm sendo diagnosticada em consultas. Segundo os médicos, de janeiro deste ano até a última terça-feira, 900 casos apresentaram sintomas de síndrome febril na rede pública e privada de saúde. Paula esclarece que a comprovação de que a causa era a toxoplasmose veio com o resultado dos 17 coletados em pacientes atendidos em Santa Maria na semana passada. Dos 17 exames, 14 deram positivo para toxoplasmose, doença transmitida por um protozoário.

_ A doença não mata. A nossa preocupação é com as gestantes porque a doença pode passar para o bebê se não tratada. Além disso, outro grupo são as crianças menores de 2 anos e imunodeprimidos (pessoas com baixa imunidade) - afirma Paula.

TRANSMISSÃO E CUIDADOS
Conforme os médicos, a toxoplasmose é transmitida por um protozoário por via oral (pela boca) por meio de ingestão de alimentos ou água. Por isso, a orientação dos médicos é ferver a água da torneira por mais de 10 minutos, armazená-la em recipiente fechado e consumi-la no mesmo dia. Também lavar bem os alimentos crus, como verduras, frutas e legumes. Para os grupos de risco, a médica ressalta a importância de beber água mineral e não da torneira.

_ Quem já teve a doença não irá contrair novamente. A toxoplasmose é passível de ser tratada por medicamentos, mas cada caso precisa ser avaliado - diz Thiego.

A TOXOPLASMOSE E A ÁGUA
Perguntado sobre a relação da doença com a água do reservatório de Santa Maria, o infectologista foi categórico:
_ A informação de que a água pode ser um veículo de transmissão se torna bastante evidente. Precisamos do retorno dos órgãos competentes que estão fazendo a análise de água em Santa Maria - afirma Thiego.

Em entrevista ao Diário nesta manhã, o coordenador regional da Corsan, José Epstein, afirmou que a Corsan não recebeu notificação dos órgãos de saúde de Santa Maria para fazer a análise da água. No começo deste mês, a Corsan havia se manifestado informando que coletas periódicas são feitas nos reservatórios e a água era própria para consumo.

A médica infectologista explica ainda porque popularmente a toxoplasmose é chamada de doença do gato:

_ O gato é o reservatório natural, ele armazena milhares de oocistos (que é a forma infectante da doença) no intestino. Quando ele defeca, libera milhares de oocistos no meio ambiente e a partir disso, a chuva lava essas fezes e leva esses oocistos para horta, para água e a gente pode vir a ingerir, por isso se relaciona. Tem se vinculado também a questão das obras e tubulações, a questão da limpeza do reservatório municipal. Tudo isso é veículo de transmissão _ acrescentou.

VAZAMENTO DE DOCUMENTO
Desde que os primeiros casos começaram a ocorrer, as autoridades em saúde não tinham a informação de qual era o agente transmissor da síndrome, que agora, foi descoberto. Neste período, vários boatos e informações falsas foram publicadas em redes sociais e grupos de WhatsApp.

A última informação que colocou a população em alerta foi o vazamento de um documento oficial da Vigilância em Saúde da prefeitura de Santa Maria, na noite desta quarta.

O documento intitulado "Investigação de casos suspeitos de toxoplasmose" falava no primeiro parágrafo que "Estamos vivendo uma situação epidêmica de toxoplasmose em Santa Maria". A assessoria prefeitura de Santa Maria informou nesta manhã, por meio de nota oficial, que irá esclarecer os fatos durante uma coletiva de imprensa às 14h30min para desmistificar boatos e orientar a população.